Agentes penitenciários fingiam ser policiais para sequestrar comerciantes

Vítimas eram levadas para cativeiro na Estrada do Coco e torturadas

Agentes penitenciários fingiam ser policiais para sequestrar comerciantes
Imagem: Reprodução

Os três agentes penitenciários presos nesta sexta-feira (23), acusados de sequestrar, torturar e extorquir comerciantes em Salvador e Região Metropolitana se passavam por policiais civis para obrigar as vítimas a entrar nos carros. Eles usavam fardas, armas falsas e até distintivo. Os investigadores afirmam que há mais pessoas envolvidas nos crimes e que a quadrilha movimentou mais de R$ 100 mil em sete meses de atuação. Um dos criminosos trabalhava há 17 anos no sistema prisional.

A polícia chegou até a quadrilha depois que vítimas procuraram o Departamento de Repressão e Combate ao Crime Organizado (Draco) para denunciar o sequestro, a tortura e a extorsão, em junho. Uma das pessoas sequestradas entregou R$ 60 mil aos criminosos. Batizada de Operação Nix, a investigação levou para a cadeia três servidores públicos e está em busca de pelo menos mais duas pessoas.

Os delegados contaram que os agentes penitenciários usavam do cargo para ter acesso à informação de comerciantes que tinham registro no sistema, como pessoas envolvidas em brigas ou acidente de trânsito, por exemplo. O registro contém dados como endereço e telefone. Com esses detalhes, eles escolhiam o alvo, monitoravam a vítima e aguardavam para aplicar o golpe.

O coordenador de Repressão de Extorsão Mediante Sequestro, delegado Adailton Adan, contou que a polícia está à procura de outros dois homens que estão com mandados de prisão em aberto por suspeita de participação nos crimes, e que existe indícios de que a quadrilha tem mais integrantes. Os três agentes presos nesta sexta-feira são os únicos servidores públicos que faziam parte do esquema.

Ele explicou como os criminosos agiam. “Eles [agentes penitenciários] sabiam, por exemplo, que um determinado indivíduo tem ocorrência de violência doméstica. Eles abordavam a vítima dizendo ser policiais do Draco e diziam que estavam fazendo uma investigação por conta dessa ocorrência, e obrigavam a vítima a entrar no carro. A vítima acreditava que estava sendo levada para uma delegacia, mas na verdade era levada para um cativeiro”, afirmou.

Foram identificadas oito vítimas, mas os investigadores acreditam que existem mais. O delegado frisou que muitas delas não têm nenhum tipo de registro policial e foram escolhidas ao acaso. Os bandidos identificavam grandes e pequenos comerciantes de roupas, aparelhos celulares, donos de mercados e vendedores ambulantes que movimentavam grandes quantias, e passavam a monitorar a rotina dessas pessoas. Eles aguardavam o melhor momento para atacar.

O cativeiro ficava na Estrada do Coco, onde as vítimas eram torturadas e obrigadas a fazer transferências bancárias para os criminosos. Eles também entravam em contato com a família e exigiam pagamento de resgate. Os bandidos estão sendo investigados por sequestro, roubo, extorsão, tortura e associação criminosa.

O delegado Odair Carneiro, responsável pela investigação, contou que dois agentes penitenciários foram presos em casa e o terceiro estava no trabalho quando teve o mandado de prisão cumprido.

“Essa operação serve de aviso para as pessoas que são abordados por esses indivíduos e supõe que eles sejam mesmo policiais e não veem à delegacia prestar queixa. Nós deixamos essas pessoas em alerta dizendo que, mesmo sendo do corpo policial, nós fazemos a investigação e damos cumprimento aos mandados. Devemos também ressaltar a participação do sistema prisional que forneceu dados importantes e aguardou o momento certo para o cumprimento dos mandados de prisão”, afirmou.

Os nomes dos presos e das unidades em que os agentes atuavam não foram divulgados. O material encontrado com os suspeitos, como fardas, um simulacro de um revólver 38, distintivos, documentos e aparelhos celulares foram apresentados pelos delegados.

Procurada, a Secretaria de Administração Penitenciária e Ressocialização da Bahia (Seap) ainda não se pronunciou sobre o ocorrido.