A um mês do Enem, conheça sete métodos de estudo para revisar os conteúdos

Métodos de 'estudo ativo' são considerados mais eficientes para quem busca a aprovação

A um mês do Enem, conheça sete métodos de estudo para revisar os conteúdos
Imagem: Reprodução

Na sala de aula, uma professora ou um professor faz uma grande revisão dos assuntos do ano para a prova do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Seja em um cursinho pré-vestibular, seja em um colégio, com uma turma do terceiro ano, há pelo menos dois caminhos para os estudantes que estão acompanhando ali. Um deles é mais tradicional: apenas seguir a explicação e, no máximo, fotografar o quadro com o celular.

É o mesmo caso de quem, ao chegar em casa, vai apenas ler o livro ou o capítulo do módulo sobre aqueles tópicos. Depois da leitura, a vida segue. Por outro lado, há outro caminho de estudo que vem ganhando cada vez mais adeptos e que pode significar algumas dezenas de métodos diferentes. Quem escolhe esse outro modelo vai, de alguma forma, interagir com esse assunto. Pode ser com resumos, mapas mentais, resolução de questões e por aí vai: é o chamado estudo ativo. Já o primeiro caminho, pela mesma lógica, é o estudo passivo.

Entre os métodos de estudo ativo, porém, há diferentes alternativas que podem, inclusive, serem combinadas entre si: alguns têm nomes mais familiares para estudantes, como flash cards, mapas, planners e cronogramas semanais. Outros, porém, foram batizados com nomes que não entregam muito de como funcionam, a exemplo da técnica Robinson ou do método Pomodoro.

O que é consenso entre especialistas é que cada pessoa deve encontrar sua metodologia adequada. "Estamos na reta final da preparação para o Enem e é importantíssimo que cada estudante já tenha entendido qual é o seu método ideal. Idealmente, esse não é mais o momento de gerar aprendizado, mas de revisitar as temáticas principais e revisar", defende o avaliador do Inep, órgão federal responsável pelo exame, e sócio da Somos Young, Rodrigo Bouyer.

Foi assim que, desde o início do ano, quando os professores começaram a dar dicas sobre diferentes formas de estudo, a estudante Marcelle Coelho, 17 anos, identificou qual funcionava melhor em seu caso: o cronograma - ou planner - semanal de estudo. Depois de testá-lo, definiu que seguiria com ele para ter uma rotina menos cansativa e com mais rendimento.

"No início, foi um pouco complicado seguir porque rotina é algo que necessita de prática para ser estabelecido. Mas na terceira semana eu consegui executar corretamente meu plano de estudos", lembra ela, que está no 3º ano do Colégio Vitória-Régia e vai fazer a prova pela primeira vez para buscar uma vaga no curso de Educação Física.

A estudante Marcelle Coelho escolheu o cronograma de estudos como método

A estudante Marcelle Coelho escolheu o cronograma de estudos como método. Crédito: Acervo pessoal

Assim como Marcelle, dentro de um mês, no próximo dia 5 de novembro, 3,9 milhões de estudantes em todo o Brasil - pouco mais de 324 mil na Bahia - farão as provas de Linguagens, Ciências Humanas e Redação no primeiro dia do Enem. Uma semana depois, no dia 12, será a vez das questões de Ciências da Natureza e Matemática.

Online

Nos últimos anos, cresceu o número de perfis dedicados a falar sobre produtividade nos estudos na internet. Apenas no TikTok, a hashtag #métodosdeestudo, com conteúdos específicos sobre o tema, tem mais de 48 milhões de visualizações. No YouTube, alguns dos vídeos mais assistidos sobre o tópico chegaram a ser vistos mais de 4,5 milhões de vezes cada um.

Criadora de conteúdo sobre estudos desde o final de 2021, quando estava no terceiro ano do Ensino Médio, a estudante Larissa Quintanilha é uma das maiores influencers do nicho no país. Com mais de 400 mil seguidores no TikTok e 64 mil inscritos no canal no YouTube, ela compartilha estratégias de como estudar melhor, aumentar a produtividade e manter a motivação.

A trajetória nas redes começou por experiência própria, quando ela percebeu que precisava melhorar a nota no Enem e também ter um melhor rendimento no terceiro ano do Ensino Médio. "Nesse momento, eu também tinha que lidar com as demandas da escola, a pressão de amigos e familiares e a necessidade de manter um equilíbrio com a minha saúde mental", diz ela, hoje aluna de administração na Universidade Federal Fluminense (UFF), sobre o momento em que percebeu que precisava se reorganizar enquanto estudante.

Larissa considera que o estudo passivo pode ser menos eficaz para quem está se preparando para o Enem. Por outro lado, ela também acredita que é importante experimentar diferentes abordagens ao longo do tempo, para adaptar cada uma delas às demandas daquela etapa. "Os melhores métodos incluem o estudo ativo, com resolução de questões, simulados e provas antigas. Além disso, a organização de um cronograma de estudos bem estruturado e o uso de técnicas de memorização, como flashcards, vão ajudar muito", enfatiza.

Questões

Um movimento mais recente e crescente nas escolas e cursinhos, de acordo com o coordenador do pré-vestibular do Bernoulli, Edmundo Castelhano, é que os alunos desenvolvam seus próprios métodos, ajustando o que está disponível ao que precisam. Mas mesmo para quem revisa por questões, algo que é considerado um bom caminho, ele explica que fazer apenas isso nem sempre é suficiente.

"Não adianta o aluno apenas resolver questões de prova. Ele precisa analisar essas questões, ter um feedback do que fez, saber o que errou, o que ficou com dúvida", diz, acrescentando que é importante fazer as provas anteriores. O Enem segue esse modelo desde a edição de 2009, quando foi reformulado.

Além de um estudo ativo, o coordenador pedagógico da Descomplica, Claudio Hansen, defende o que chama de estudo inteligente. Isso exige que os candidatos entendam quais áreas valem mais pontos para priorizar a revisão destas áreas. "Uma coisa que muita gente não sabe é que não só o curso, mas a faculdade que você deseja interfere em mais pontos. Um aluno que quer Engenharia provavelmente tem um peso maior em Matemática. O que é mais inteligente para ele? Focar no que mais cai e dar atenção maior à Matemática", explica.

Se o curso ou a universidade que a pessoa pretende entrar dá mais peso à redação, por exemplo, Hansen sugere um estudo equilibrado das outras áreas do conhecimento, mas aumentando a quantidade de horas de escrita.

Para o último mês, o ideal também é priorizar os "top conteúdos", que são os mais frequentes nos exames. Pelas estatísticas das provas de Enem dos 13 anos anteriores, incluindo a modalidade PPL (para Pessoas Privadas de Liberdade), a presença de questões de impacto ambiental, por exemplo, é dada como certa.

"É fato que é hora de trocar a palavra 'aprender' por revisar. Dá para aprender algo nesse último mês? Dá. Às vezes, um aluno que está muito perto de passar ou que já fez outros anos. Mas a gente não pode fingir que está sobrando tempo, porque não está", pondera o coordenador.

Ansiedade

Outro componente importante e que deve ser considerado inclusive nas simulações de estudo é a ansiedade. Para Rodrigo Boyer, avaliador do Inep e sócio da Somos Young, dosar essa sensação pode ser uma habilidade difícil para estudantes que, majoritariamente, são jovens. Segundo o Ministério da Educação (MEC), mais de 40% dos inscritos em 2023 têm 17 ou 18 anos.

Por isso, ele defende a importância de realizar simulados, inclusive imitando o controle de tempo da prova oficial. "Essa pressão simulada é que vai fazer um estudante ir melhor do que os outros, porque, nesse momento, cada estudante ansioso é um estudante que é seu próprio inimigo. Não saber lidar com isso é um componente de qualquer concurso público ou processo seletivo", alerta.

Quem já vem estudando desde o início do ano costuma ter um pouco mais de tranquilidade nesta época, como pondera a psicopedagoga Naiara Abreu, orientadora educacional do Ensino Médio do Colégio Vitória-Régia."Os que não estudaram e deixaram para fazer de última hora têm a pressão maior, um estresse maior. Querem, numa noite, estudar todos os assuntos e logicamente a gente sabe que isso é impossível", diz.

Além de identificar um bom método para este último mês, ela indica que o ambiente de estudo também seja escolhido com cuidado. "Não dá para estudar em qualquer lugar. Tem gente que consegue estudar ouvindo música, mas não vale para todo mundo. Tem que encontrar um local tranquilo, confortável e um horário também adequado. Esse é um dos primeiros passos e cada um precisa do seu".

Naiara também acredita que nem tudo do estudo chamado passivo hoje é ruim. Uma aula 'invertida', por exemplo, em que um professor indica um tema ou assunto e o aluno estuda em casa, mas faz as atividades no colégio, pode ser uma dessas possibilidades. Neste caso, as aulas não são apenas informativas e os estudantes interagem com o conteúdo. "Muita coisa tradicional não é descartável. Essas coisas têm que ser integradas e evoluídas", completa.

Conheça alguns dos diferentes métodos de estudo que podem ser usados nesta reta final

Cronograma de estudos

O cronograma de estudos é um planejamento que define não apenas o que vai ser estudado naquela semana ou naquele mês, mas quais são seus objetivos ao final daquele período. É uma espécie de calendário que organiza quanto tempo será dedicado a cada uma das disciplinas ou dos assuntos de cada matéria.

"Verifique as disciplinas de mais dificuldade e deposite para elas um tempo maior do que as que você tem menos dificuldade", ensina a psicopedagoga e orientadora educacional Naiara Abreu, do Colégio Vitória-Régia.

É possível incluir sábados e domingos no cronograma, mas ele deve ser montado de acordo com a realidade. Ou seja: não adianta planejar algo que será impossível de ser cumprido. "A cada semana você faz um bloco diferente e pode estudar pelas áreas de conhecimento", acrescenta.

Flash cards

Os flash cards podem ser aliados para a memorização de tópicos de estudo. A ideia é contar com resumos rápidos de assunto. Para estudar por esse método, a pessoa deve montar cartões com uma pergunta de um lado e a resposta do outro. "O aluno precisa entender o que realmente tem dúvida. Ele precisa escrever perguntas diretas, com respostas diretas", explica Edmundo Castilho, do Bernoulli.

Para facilitar a lembrança, é possível definir as cores dos flashcards por tema. Os cards da resposta certa podem ser retirados do montante e dá para ir criando novos cartões até que a pessoa acerte todos. "O aluno também pode pedir ajuda a uma amiga, à namorada, à mãe ou outra pessoa para fazer as perguntas enquanto ele responde e estudar brincando. É até mais desafiador ter outra pessoa perguntando", acrescenta.

Mapa mental

Essa ferramenta é um diagrama que foi criado pelo psicólogo inglês Tony Buzan, na década de 1970. No mapa, as informações partem de um mesmo centro, onde a pessoa deve escrever as informações relacionadas. É como se aquela palavra ou desenho central - que pode ser o nome de um assunto - irradiasse as outras informações.

É possível usar ênfases, símbolos e códigos no mapa mental, para chamar atenção do conceito e estimular a memorização. Ou seja: tudo é feito a partir de uma representação visual das ideias que precisam ser absorvidas. Existem mapas disponíveis na internet, mas o ideal é que cada um produza o seu. “Muitos alunos gostam de fazer para esquematizar, usando cores e abreviações. Mas é importante que seja com as próprias palavras do aluno”, orienta Edmundo Castilho, do Bernoulli.

Estudo por questões

Uma das metodologias mais lembradas pelos professores, costuma ser uma grande aliada dos estudantes. Neste caso, é interessante montar um caderno de questões ou praticar questões de simulado. No caso do Enem, refazer as provas anteriores costuma ser importante não apenas para fixar o assunto como também para conhecer o modelo da prova.

Dá para dividir as questões por assuntos e também definir um tempo de prova pensando no tempo do Enem. “Existe uma coisa que todo mundo precisa fazer que são os exercícios do próprio Enem e as redações no exato modelo do Enem. Serve não só como metodologia, mas como preparo emocional”, ensina o coordenador pedagógico da Descomplica, Claudio Hansen. A partir dos erros nas questões, dá para identificar eventuais assuntos que precisam ser mais estudados.

Método Pomodoro

Queridinho de muitos estudantes, pesquisadores e professores, a técnica foi criada pelo italiano Francesco Cirillo na década de 1980. Apesar de consolidada, ela se tornou muito popular nos últimos anos por ajudar a conseguir mais produtividade. O nome ‘pomodoro’ vem justamente do cronômetro em forma de tomate que é usado por muita gente para cozinhar.

A ideia é ajustar o cronômetro no tempo desejado, mas a maioria segue o modelo de 25 minutos. Assim, alunas e alunos devem seguir estudando até o cronômetro apitar. Ao final desse período, podem fazer uma pausa de cinco minutos. Esses ciclos de 25 minutos de estudo devem ser mantidos até o final da quarta rodada, quando é possível fazer um intervalo maior - de 20 a 30 minutos. Depois disso, a pessoa volta ao estágio 1.

“Gosto muito dessa técnica porque você pode organizar seus temas de modo que tenha assuntos afins e equilibrados com pequenos espaços de tempo de intervalo”, afirma Rodrigo Bouyer.

Método Robinson

Também chamado de SQ3R ou SQRRR, ele se propõe a ser um método de leitura mais eficiente. O nome vem a partir das seguintes palavras em inglês: Survey (pesquisar), Question (questionar), Read (ler), Recite (recitar) e Review (revisar). Cada uma indica uma das cinco etapas da metodologia.

No primeiro passo, o Pesquisar (também chamado por alguns de Explorar) significa que o estudante deve pesquisar o conteúdo existente sobre aquele tema. É o momento de explorar o material em um primeiro contato, observando títulos, subtítulos, tabelas, figuras. No segundo passo, a pessoa deve criar perguntas sobre o conteúdo do capítulo explorado. O terceiro passo é a leitura, de fato, com foco em responder às questões feitas.

Na quarta etapa, o estudante deve tentar repassar aquela informação lida, seja de forma escrita, seja de forma oral. Por fim, a última fase significa revisar aquele tema usando o material que foi produzido durante o desenvolvimento do método.

Método Feynmann

Criada pelo físico Richard Feymann, vencedor do Prêmio Nobel em 1965, a base dessa técnica é tentar explicar um assunto complexo a uma criança. São quatro etapas, sendo que a primeira é identificar o conceito que vai ser estudado.

Em seguida, a segunda etapa é tentar traduzir o que foi aprendido, como se ensinasse a uma criança. Isso fará com que a pessoa foque nas partes importantes e básicas. O terceiro passo é identificar quais são as lacunas no seu próprio entendimento. Para isso, deve-se retornar ao material de estudo do primeiro passo e corrigir as falhas e lacunas naquele tema.

A última fase é revisar e simplificar o que foi estudado, criando paralelos e analogias que tornem aquele assunto algo mais familiar. Esse método é bem parecido com o ‘Aprendizagem por Ensino’ (do alemão Lerner durch Lehren), que foi desenvolvido pelo educador francês Jean-Pol Martin, nos anos 1980.

“Não existe um método de estudo único e ideal que funcione para todos, pois cada pessoa tem seu próprio estilo de aprendizado, suas dificuldades e facilidades. A escolha do método de estudo é uma experiência totalmente pessoal”, pondera a estudante e Influencer de estudos Larissa Quintanilha.